MÚSICA NO 100

A Égide – Associação Portuguesa da Artes, em parceria com o Luíza Andaluz Centro de Conhecimento (LACC), apresenta o Ciclo de Concertos “Música no 100”, uma série de seis eventos de entrada gratuita, que juntam música, teatro e tertúlias, com vários convidados especiais.

1 fev / 17:00
“Da inquietude para o mundo”

15 fev / 17:00
“A Paz da Europa

1 mar / 17:00
“De uma Belle Époque

15 mar / 17:00
“Doce espiritualidade

29 mar / 17:00
“De um turbilhão de ondas

4 abr / 19:00
“Um Stabat Mater por Anica

4 de Abril 2025, 19:00
Um Stabat Mater por Anica 

“Nos caminhos da vida mantenhamos sempre o olhar confiante em Maria, que carinhosamente nos conduz.”
Luiza Andaluz

Concerto
1902, 18 de Setembro.
Um dia fatídico para a família Andaluz.
Ana Santa Martha, Anica, morre de forma totalmente inesperada.
Luiza Andaluz perdia, assim, precocemente a sua irmã mais nova.
A dor ficaria guardada para sempre no seu coração.
O desespero da perda encontra-se ainda hoje vincado na Bíblia familiar dos Viscondes de Andaluz.
Começava, assim, de forma trágica o novo século, quase como uma espécie de anúncio dos tempos turbulentos que se aproximavam para toda uma geração e, mais particularmente, para a jovem Luiza.Seria, não obstante, deste contexto que brotaria a sua maior obra, pois, como nos ensinou, “Quem ama a Jesus encontra conforto e alegria na dor.” 

“Stabat Mater” consiste num texto escrito em verso pela pena inspirada do Papa Inocêncio III (1161-1216). A força emotiva contida no texto, evocando o sofrimento de Nossa Senhora perante a crucificação de Cristo, transformou-o em fonte de inspiração de inúmeros compositores no decurso dos séculos, elevando-o ao patamar de um dos mais importantes testemunhos da devoção mariana presente na herança cultural que a todos liga.
Na evocação daquele que terá sido, por ventura, o primeiro momento de profunda dor na vida de Luiza Andaluz, e aquele que certamente marcou o fim da sua fase de juventude, escolhemos o “Stabat Mater” de um compositor que, tendo nascido em Itália, viveu a maior e mais produtiva parte da sua vida em Espanha, Luigi Boccherini (1743-1805). Amplamente conhecido pelos seus quartetos e quintetos de cordas, igualmente reconhecido como violoncelista virtuoso, a simples menção de Boccherini bastaria para despertar a convicção de que a escolha de uma obra sua seria garante de dignidade numa programação votada ao conhecimento da vida e obra de Luiza Andaluz. Não obstante, fomos mais longe.
Para além da beleza insondável do “Stabat Mater” G 532 de Boccherini, escrito, na sua versão inicial em 1781, para apenas uma soprano e um quinteto de cordas, desperta-nos a atenção o facto de ter sido dedicado ao Infante D. Luís de Bourbon (1727-1785), seu patrono e o maior mecenas do grande Francisco Goya.
O interesse do tema prende-se com um pormenor que estabelece pontes com uma das maiores fontes de inspiração espiritual de Luiza Andaluz, Santa Teresa de Ávila. Foi precisamente em Ávila que este Stabat Mater foi escrito, mais concretamente no discreto palácio de la Mosquera, em Arenas de San Pedro.
Quem sabe se a Santa por quem Andaluz sentiu tão imensa devoção no decurso da sua vida, não terá também inspirado as lindíssimas linhas melódicas e o elegante jogo de equilíbrio entre a voz solista e as cordas que encontramos ao longo dos 11 números que compõem este “Stabat Mater”?      

“STABAT MATER
G 532 de Luigi Boccherini”

“UM STABAT MATER POR ANICA”

CARLA CARAMUJO soprano ANA PEREIRA violino JOSÉ PEREIRA violino JOANA CIPRIANO viola NUNO ABREU violoncelo CATARINA GONÇALVES violoncelo

À conversa com
PADRE JOAQUIM TEIXEIRA
(Ordem dos Carmelitas Descalços)
“Luíza Andaluz e a Espiritualidade de Santa Teresa d’Ávila: primórdios de um caminho para a vida”

29 de Março 2025, 17:00
De um turbilhão de ondas

“A confiança em Deus é caminho seguro nas dificuldades da vida.”
Luiza Andaluz

A viragem para o século XX foi um tempo de fortes mudanças na Europa, algumas das quais Portugal foi protagonista.
Logo em 1910 era instaurada a República, regime que cortava radicalmente com a nossa herança monárquica.
Pese embora as virtudes do modelo republicano, a verdade é que, do período revolucionário da 1ª República, resultaram os excessos e instabilidade próprias da implementação de uma nova forma de governar que era, de resto, desconhecida em grande parte da Europa de então.
A agravar o doloroso processo revolucionário, em 1914 iniciava-se o primeiro conflito armado à escala global da História, a Grande Guerra. A jovem Luiza viveu estes tempos conturbados num grande turbilhão de emoções. Desde logo, pelo sentimento de revolta que terá sentido assim que as Ordens Religiosas foram proibidas em Portugal, as mesmas Ordens que tinham garantido ao longo da História o amparo e educação de gerações e gerações de meninas e meninos. Terá sido a partir dos jornais, e, mais especificamente, do pequeno rádio que sempre a acompanhou, e das notícias que as suas ondas electromagnéticas emitiam, que Luiza Andaluz se manteve sempre muito atenta à evolução conjuntural. De resto, o seu enérgico interesse por tudo o que se passava no mundo acompanha-la-ia até ao fim da sua vida, utilizando a sua confiança em Deus para fazer a diferença nos momentos de maior dificuldade.
Luiza Andaluz foi uma mulher do mundo e para o mundo, um mundo que na aurora da República se configurava a seus olhos em desordem, numa espécie de permanente estado de crise e órfão das casas que haviam votado à construção da dignidade humana e do bem comum, particularmente na formação integral de jovens mulheres, a maior parte da sua existência.
Foi desta leitura factual da realidade que resultou a criação do Colégio Andaluz.    

“De um turbilhão de ondas”

“HISTÓRIA DO SOLDADO”
de Igor Stravinsky

MÁRIO REDONDO narrador
JOSÉ PEREIRA violino
ADRIANO AGUIAR contrabaixo
CÂNDIDA OLIVEIRA clarinete
LURDES CARNEIRO fagote
ANTÓNIO QUÍTALO trompete
HUGO ASSUNÇÃO trombone
PEDRO SILVA percussão
JOAQUIM RIBEIRO
direção musical

15 de Março 2025, 17:00
Doce espiritualidade

“Que Deus tome o teu coração e que Ele aí faça a sua obra! Prepara-te e vive do amor.”
Luiza Andaluz

A infância de Luiza Andaluz decorreu sem sobressaltos. Na realidade, terá sido uma fase particularmente feliz da sua vida, durante a qual desfrutou dos pais e das suas três irmãs numa Santarém pacata, na casa de família, bem perto do Convento das Capuchas daquela cidade, numa rotina contrastante com a época de banhos, passada anualmente na cosmopolita vila de Cascais. É durante estes primeiros anos que a grande espiritualidade e devoção que viria a caracterizar a sua personalidade começa a ganhar forma, alicerçada certamente nos elevados princípios ético morais transmitidos pelos pais e que seriam comuns às suas irmãs. Não se sabe com pormenor o grau de profundidade que Luiza terá desenvolvido com o universo musical, mas sabemos que a música foi sempre um pilar importante na sua educação, elemento integral da formação das alunas do posterior Colégio Andaluz. No entanto, pese embora a falta de conhecimento, não nos custa imaginar quais as harmonias que preencheriam o cenário quotidiano de Luiza Andaluz e dos seus entes queridos, um quotidiano feito de aprendizagens e de brincadeiras, nas quais, a avaliar pelo encantador conjunto de alfaias litúrgicas em miniatura que consta do seu espólio, não excluiriam uma espécie de doce espiritualidade infantil. A partir do palacete de São Mamede viajaremos pelo delicioso universo sonoro das Scenas Portuguesas , op. 9, do grande Vianna da Motta, ricamente complementadas por pinceladas inspiradas de outras obras que, certamente, ecoariam nas casas particulares da elite nacional da 2ª metade do séc. XIX e início do séc. XX.   

“Doce Espiritualidade”

CONCERTO
SCENAS PORTUGUESAS”

JOSÉ PEDRO RIBEIRO piano 

obras de
Bedřich Smetana
 (1824-1884)
Ludwig van Beethoven (1770-1827)
José Vianna da Motta (1868-1948)
Franz Liszt (1868-1886)

1 de Março 2025, 17:00
De uma Belle Époque

“Passar fazendo o bem à imitação do Mestre Divino, tornar felizes os que nos rodeiam, que doce programa de vida.” Luiza Andaluz

Quando Luiza Andaluz dá o seu primeiro grito, na fria madrugada de 12 de Fevereiro de 1877, Portugal começava a desfrutar dos benefícios do ambicioso programa tecnológico e industrial que Fontes Pereira de Melo havia iniciado em 1851 e que o acompanharia pelo resto da sua vida. A Regeneração foi possível graças à conjuntura de relativa estabilidade que se havia conquistado com a ascensão ao trono de D. Maria II. Mas não só. A 1ª Revolução Industrial portuguesa teve o cunho muito pessoal do rei consorte de D. Maria II, D. Fernando de Saxe-Coburgo-Cotta, verdadeiro cidadão do mundo, que idealizava um Portugal mais próximo da Europa cosmopolita e dos seus avanços tecnológicos, ambição que transmitiu aos seus filhos, nomeadamente a D. Pedro, cujo reinado seria especialmente curto, e a D. Luís, que lhe sucederia. A Luiza Andaluz menina viveu este Portugal da primeira rede de caminhos de ferro, das primeiras carreiras de barcos a vapor, da introdução do telégrafo e do telefone, entre tantas outras maravilhas tecnológicas. Mas também tomou contacto, desde a sua Santarém natal, com as assimetrias que teimavam em perdurar num país onde o contraste entre o urbano e o rural, o popular e o elitista, o analfabeto e o intelectual era gritante. Das suas brincadeiras de menina resultou uma especial aptidão para a costura, qualidade que não tardou a utilizar de forma plena. Das roupinhas para as bonecas depressa evoluiu para a criação de vestuário destinado às crianças desfavorecidas. Elaborava autênticos enxovais a partir de tecidos que recebia na época natalícia. Esta foi uma atividade quase tão duradoura como a de educadora, verdadeira paixão que se revelou aos 14 anos, quando iniciou o seu caminho de amparo às meninas sem educação na Casa da Aula que as Irmãs Capuchas tinham na cerca do convento, bem perto da sua casa de família, em Santarém.

“De uma belle époque portuguesa”
A 2ª metade do século XIX marcou em Portugal, à semelhança do que acontecia um pouco por toda a Europa, um adensamento na procura da definição de uma identidade cultural nacional. Esta seria comum a todas as manifestações artísticas. Vivia-se o período denominado de “Belle Époque”, pleno dos confortos que as novas tecnologias resultantes da revolução industrial tinham colocado à disposição da sociedade cosmopolita, por vezes, como era o caso em Portugal, em forte contraste com a vivência no interior rural, mais ligado agora às grandes cidades, mas não o suficiente. A música no Portugal desta época, presente nos grandes salões e casas particulares, dá-nos bem conta da ambiência que se vivia, uma música que se assume como cenário natural das últimas décadas da monarquia constitucional. Dela nos dará conta o Quarteto de Solistas da Camerata Atlântica.  

“De uma Belle Époque”

CONCERTO
CAMERATA ATLÂNTICA

obras de
Almeida Mota
(1744-1817)
&
Antonín Dvořák (1841-1904)

ANA BEATRIZ MANZANILLA violino e direção musical
JOÃO VIEIRA DE ANDRADE violino
PEDRO MUÑOZ viola
JEREMY LAKE violoncelo 

15 de Fevereiro 2025, 17:00
A paz da Europa

Concerto integrado na temporada em andamento do Teatro Nacional de São Carlos

“Entre o passado que se afasta e o futuro que nos aguarda, está o presente onde temos deveres a cumprir”
Luiza Andaluz

O título nobiliárquico “Visconde de Andaluz" foi criado e atribuído, em 1811, a António Luíz Maria de Mariz Sarmento pelo Príncipe Regente de D. Maria I, futuro Rei D. João VI. Falamos de um tempo em que Portugal vivia uma espécie de orfandade resultante do exílio que as invasões napoleónicas haviam forçado à família real e respetiva corte, que se tinham fixado no Brasil, incluindo-se aqui D. António, bisavô de Luiza Andaluz. De resto, a atribuição do título de Visconde deu-se na colónia ultramarina, onde este antepassado direto de Luiza chegou a desempenhar o cargo de Governador da Ilha das Cobras.
Do lado de cá do Atlântico, a destruição provocada pela passagem dos exércitos bonapartistas era acentuada e a ingerência do nosso mais antigo aliado, a Inglaterra, era total.
Paralelamente, os princípios aclamados na Revolução Francesa de 1789 começavam a entranhar-se nos espíritos intelectuais, processo que nem mesmo a violência do surto imperialista de Napoleão tinha conseguido aplacar. O Antigo Regime vivia o seu último fôlego e a aurora da Monarquia Constitucional surgia no horizonte.
Em 1815, um jovem particularmente ativo e com um sentido de cidadania e patriotismo muito vincado, de nome João Domingos Bomtempo (1775-1842), aproveitou a breve paz resultante do Congresso de Viena para regressar a Portugal de um exílio forçado pela conjuntura. Embora este regresso tivesse sido bastante curto, fruto novamente dos tempos instáveis que se viviam, escreveu uma cantata evocativa da vitória sobre as invasões francesas e a paz, por certo bastante efémera, que daí resultou. A Cantata “A Paz da Europa”, op. 17, é uma das obras mais emblemáticas de Domingos Bomtempo, compositor profundamente engajado com o seu tempo, homem que se notabilizou não apenas pela qualidade da sua produção musical, como pelo seu empenho em contribuir para a promoção da cultura.
Em 1836, integrou o grupo que, liderado por Almeida Garrett, criou o Conservatório Geral de Arte Dramática, tendo sido o primeiro diretor da escola de música, acumulando com as funções de mestre da Real Capela e de professor de piano da corte, a mesma corte a que pertenceram os sucessivos Viscondes de Andaluz. 

“Da aurora da monarquia constitucional”

CONCERTO
“A PAZ DA EUROPA”, op 17

João Domingos Bomtempo (1775-1842) 

com
Ana Franco, soprano
Rita Coelho, contralto
João Cipriano, tenor
João Oliveira, baixo
João Paulo Santos, piano e direção musical

1 de Fevereiro 2025, 17:00
Da inquietude para o mundo

Na serenidade que se experimenta no Palacete de São Mamede, verdadeira cápsula de recolhimento, bem no centro da velha Lisboa, na sempre movimentada Rua da Escola Politécnica, destaca-se a pequena capela. Efetivamente, rasgando paradigmas, constatamos tratar-se de um espaço de oração e espiritualidade cuja espacialidade se dilui fisicamente numa sala polivalente, que dá sugestivamente para o jardim do complexo arquitectónico. Esta abertura física remete-nos inevitavelmente para a busca incessante de renovação e evangelização transformadora que as irmãs da Congregação das Servas de Nossa Senhora de Fátima abraçam na sua Missão. Mas não só. Aqui, é-nos dado a sentir que o Luíza Andaluz Centro de Conhecimento pretende assumir-se como um espaço contemporâneo e de vanguarda onde os espíritos mais inquietos e indagadores da verdade podem encontrar refúgio, independentemente das linguagens. Aqui, no coração do palacete oitocentista consagrado hoje ao Centro de Conhecimento, abrimos as portas da espiritualidade contemporânea, fruto renovado de um caminho secular, pilar incontornável da sociedade ocidental, fonte da nossa própria identidade nacional.

CONCERTO
O ESPLENDOR DA POLIFONIA PORTUGUESA. DA IDADE DE OURO DA CRIAÇÃO MUSICAL EM PORTUGAL.

com OFFICIUM ENSEMBLE
Pedro Teixeira, direção musical

À CONVERSA COM
D.Alexandre Palma, Bispo Auxiliar de Lisboa
“Os novos caminhos da espiritualidade. O Homem e o Mundo.”

Curadoria JENNY SILVESTRE
Encenador CARLOS ANTUNES
Produção RITA ALVES

curadoria JENNY SILVESTRE 

Assumindo como pilares de ação a Espiritualidade, a Educação e a Cultura, o Luíza Andaluz Centro de Conhecimento rasga fronteiras e preconceitos rumo ao futuro.

Mas quem foi Luíza Andaluz?

Partindo da ambiência serena da histórica Casa de São Mamede, palacete oitocentista onde, em 1939, Luíza Andaluz e as primeiras 24 irmãs fizeram os seus primeiros votos e onde, anos mais tarde, viria a falecer, convidamos todos a mergulhar no tempo e conjuntura em que viveu e na qual criou a Congregação das Servas de Nossa Senhora de Fátima.